quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

- E mais uma loucura, não tenho mesmo juízo!
- O bom é que nunca teve, não acontece de ficar com aquele sentimento de culpa.
- Não fala assim!
- Você sabe que não é mentira.
Ficaram em silêncio e continuaram andando. O frio que fazia parecia congelar de vez aquela conversa. Todos sabiam o quanto ela era relapsa, displicente, doida mesmo. Mas ninguém dizia isso a ela, não do jeito que ele dizia, sem qualquer pretensão de afetar ou ofender. Dizia porque era verdade e pronto.
- Ainda com fome?
E quebrou o silêncio.
- Não, na verdade aqueles pastéis de queijo me deixaram cheia!
- Você só come besteiras, não sei como sobrevive.
- Hoje é o dia de falar dos meus defeitos?
- Me preocupo com a sua saúde, só isso.
Continuaram andando e a noite parecia menos iluminada por causa do nevoeiro encobrindo as lâmpadas. Pararam em frente à casa dele: pequena, portas e janelas de madeira escura, paredes em um tom feio de amarelo.
- Não vai entrar?
- Claro que sim! Vou congelar se continuar aqui fora...
Entrou apressada, tirou o par de botas e se jogou no sofá com os pés sobre o tapete. Ela sempre se jogava no sofá do mesmo jeito e ficava olhando para a luminária que havia ao lado.
- Está bem mais quentinho aqui dentro.
Ele permaneceu de pé e cruzou os braços enquanto a olhava.
- Você está muito atraente hoje...
- Eu sempre estou atraente! - disse rindo alto, como de costume -
- Mas hoje é especial.
- Ah, pare com isso! Não preciso que você seja o responsável por levantar minha auto-estima.
- Posso sentar do seu lado?
- É claro que pode. É o seu sofá e você está na sua casa.
- Eu sei. Meu sofá, minha casa e minha melhor amiga. Tem certeza de que tudo isso me pertence? - sentando-se ao lado dela -
- Ora, tenho sim!
Não disse mais nada. Segurou o rosto dela devagar, olhou no fundo daqueles olhos e deixou sua boca encostar nos lábios pintados de batom vermelho. Ela tentou escapar por alguns segundos, mas acabou permitindo que suas mãos fossem de encontro a nuca dele. Sentia seus olhos se fechando lentamente e sua mente despindo-se de qualquer raciocínio. Até então, ela achava que beijar o melhor amigo seria muito esquisito. Achava.
- Acredita que estou sendo inconsequente?
Ela o puxou de volta, dessa vez, voraz. Encostou novamente sua boca na dele, tirando-lhe depressa seu casaco.
- Você mesmo diz que não tenho juízo. Não me importo com as consequências (...)

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